Bella
1 min readSep 18, 2021

.eu perdoo tudo.

finjo que não

tenho lua em escorpião

que não vou ler a tua mão

.mesmo à distância.

perdoo

as palavras-navalhas

cortando a minha pele

nas noites

de céu sem estrela

e madrugada

que não dura.

perdoo

cada ato

mal jeito

mal dado

que vem

de todo aquele

que me diz

ser bem intencionado.

perdoo.

perdoo

até perder

os ossos

pele

conjuntos de órgãos

conjunto de sonhos

e minha própria misericórdia

perdoo até o vento me atravessar

porque

sem demora

virei

qualquer coisa

distante

de alguém.

mas meu corpo não.

o que me resta de corpo

não perdoa.

não esquece.

meu corpo sangra

e pede sangue

cada vez

que o cortam

imediatamente

ele clama

por

sangue.

e se não for o teu

vai o meu mesmo.

.nunca vai o teu.

a endometriose

aparece

aos gritos

viro contorcionista

brinco

de bailaria

numa dança de terror

macabra

onde a dor

é a minha protagonista.

remédios

remédios

remédios

bolsa de água quente

“tenta uma posição diferente”

remédios

na veia agora.

“teu corpo é remoso”

culpam

a quem não merece a culpa

a todo instante

desde o primeiro instante

quando no útero

daquela menina magrela e sozinha

disseram ter

uma menina.

.eu sangro.

Bella

.uma mulher com dois olhos de trovão. não existem narrativas confiáveis neste mundo meu. não esperem grandes verdades.