.eu perdoo tudo.
finjo que não
tenho lua em escorpião
que não vou ler a tua mão
.mesmo à distância.
perdoo
as palavras-navalhas
cortando a minha pele
nas noites
de céu sem estrela
e madrugada
que não dura.
perdoo
cada ato
mal jeito
mal dado
que vem
de todo aquele
que me diz
ser bem intencionado.
perdoo.
perdoo
até perder
os ossos
pele
conjuntos de órgãos
conjunto de sonhos
e minha própria misericórdia
perdoo até o vento me atravessar
porque
sem demora
virei
qualquer coisa
distante
de alguém.
mas meu corpo não.
o que me resta de corpo
não perdoa.
não esquece.
meu corpo sangra
e pede sangue
cada vez
que o cortam
imediatamente
ele clama
por
sangue.
e se não for o teu
vai o meu mesmo.
.nunca vai o teu.
a endometriose
aparece
aos gritos
viro contorcionista
brinco
de bailaria
numa dança de terror
macabra
onde a dor
é a minha protagonista.
remédios
remédios
remédios
bolsa de água quente
“tenta uma posição diferente”
remédios
na veia agora.
“teu corpo é remoso”
culpam
a quem não merece a culpa
a todo instante
desde o primeiro instante
quando no útero
daquela menina magrela e sozinha
disseram ter
uma menina.
.eu sangro.